Como entrar no reino de Deus e na salvação
Um indivíduo não se torna cidadão norte-americano simplesmente ao cruzar a fronteira, legal ou ilegalmente, dos Estados Unidos. Não, o governo dos Estados Unidos estabeleceu um procedimento que um imigrante deve seguir para se tornar um cidadão naturalizado. Basicamente, a pessoa tem que ter dezoito anos de idade, ter sido um residente legal nos Estados Unidos durante cinco anos, ser de boa reputação moral, capaz de ler e escrever um inglês básico, e possuir um conhecimento básico da história e do governo dos Estados Unidos. Finalmente, o solicitante deve prestar o juramento de lealdade.
Semelhantemente, há procedimentos ou passos que devem ser seguidos para que uma pessoa possa entrar no reino de Deus. Para começar, as pessoas têm que ser libertas para que possam entrar no reino. Isto se deve a que todo o gênero humano é escravo do pecado, de Satanás e da morte. Jesus morreu para livrar-nos dessa escravidão. Por meio de sua morte, ele amarrou Satanás e limpou a todos os crentes por meio do seu sangue. A pessoa se beneficia do sangue derramado por Jesus quando segue, por meio da fé, os passos estabelecidos nas Escrituras.
Jesus instruiu seus apóstolos para que fossem capazes de ajudar as outras pessoas a entrarem no reino. Pouco depois de Jesus voltar para o céu, os apóstolos tiveram a oportunidade de pôr em prática as instruções de Jesus. No dia de Pentecostes, o primeiro grupo de novos aspirantes entrou no reino. O capítulo 2 de Atos descreve como o fizeram:
E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, homens irmões? E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar. E com muitas outras palavras isto testificava, e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa. De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas (Atos 2:37–41).
Analisemos a seguir os passos mediante os quais os ouvintes de Pedro entraram no reino de Deus:
• Eles escutaram a mensagem de Jesus Cristo e seu reino, e creram. E esta não foi uma convicção meramente superficial. Eles “se compungiram em seu coração”.
• Além disso, eles se arrependeram de sua vida anterior. O que isso significa? O Dicionário Strong de palavras gregas do Novo Testamento define a palavra arrepender-se como “pensar diferente, i.e. reconsiderar”.1 Portanto, os ouvintes de Pedro reconsideraram como desejavam viver. Eles decidiram viver o resto de suas vidas como seguidores de Jesus Cristo.
• Eles foram batizados em água.
• Eles receberam o Espírito Santo.
Após terem dado estes passos, eles entraram no reino de Deus.
Queira notar que estas pessoas tiveram que se arrepender de seus pecados, mas não tiveram que expiá-los. Jesus faz a expiação por nós. Nós não nos salvamos a nós mesmos. Jesus é quem nos salva. Veja também que os ouvintes de Pedro não tiveram que fazer nada para ganhar sua salvação ou para ganhar o reino de Deus. Eles eram completamente indignos. Sua salvação e sua cidadania no reino foram dons gratuitos. Eles foram salvos por meio da graça, e não por meio de sua própria justiça.
O que faz o novo nascimento
O que aconteceu com a multidão que creu e nasceu de novo no dia de Pentecostes? Muitas coisas, coisas maravilhosas! Todos os seus pecados passados lhes foram perdoados e lavados com o sangue de Jesus. Experimentaram um novo começo de vida diante de Deus. Nasceram de novo como novas criaturas. Ou seja, experimentaram uma transformação espiritual sobrenatural. Passaram a ser cidadãos do reino de Deus. E estes novos cidadãos do reino se converteram em varas da videira de Jesus (leia João 15:5). Se tivessem morrido naquele mesmo instante, teriam ido direto para o paraíso.
Os dois aspectos da salvação
Segundo o evangelho fácil de hoje, aí terminaria o assunto. Segundo este evangelho popular, todo pecado que uma pessoa tiver cometido, mais todo pecado que a pessoa cometerá no futuro lhe é perdoado quando ela nasce de novo. Este evangelho popular declara que a salvação consta de um único passo, de uma vez por todas. Uma vez que as pessoas nascem de novo, só se pode falar de sua salvação no tempo passado.
No entanto, Jesus nunca disse nada disso. O evangelho fácil não é o evangelho do reino. O evangelho do reino reconhece que há tanto um aspecto passado de nossa salvação como um aspecto futuro. Se a pessoa compreender estas duas fases, não poderá compreender nunca o evangelho do reino ou o ensino do Novo Testamento sobre a salvação.
O Novo Testamento fala da salvação no tempo passado. Por exemplo, Romanos 8:24 diz: “Porque em esperança fomos salvos”.
Portanto, quando nascemos de novo, somos salvos. Isto quer dizer que fomos tirados do mundo. Nesse exato momento, entramos no reino de Deus; e nossos nomes são inscritos no livro da vida. Ao escrever para os filipenses, Paulo falou de seus colaboradores como aqueles “cujos nomes estão no livro da vida” (Filipenses 4:3).
Mas as escrituras também se referem a um aspecto futuro da salvação. Jesus disse: “E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo” (Mateus 10:22). Então, existe um aspecto futuro da salvação. Temos que perseverar até o fim de nossa vida para que a nossa salvação seja definitiva. Novamente, Jesus deixou isto bem claro em seu exemplo da videira: “Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem. (…) Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (João 15:5–6, 2).
Esta passagem mostra os dois aspectos da salvação: passado e futuro. Somente os que nasceram de novo, os que foram salvos, podem ser varas nesta videira. Esse é o aspecto passado da salvação. No entanto, o fato de sermos varas na videira de Jesus não quer dizer que vamos permanecer na videira. Se não mantivermos nosso relacionamento de amor obediente, Deus nos tirará da videira. É por isso que também devemos falar do aspecto futuro da salvação.
Por causa deste aspecto futuro da salvação, Jesus disse aos cristões da igreja primitiva em Sardes: “O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos” (Apocalipse 3:5). Então, só pelo fato de nosso nome terem sido inscritos no livro da vida no momento de nosso novo nascimento, não podemos presumir que permanecerá ali. Na realidade, segundo as palavras de Jesus à igreja em Sardes, parece que ele iria apagar a maioria dos seus nomes. Notemos o que diz: “Mas também tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram suas vestes, e comigo andarão de branco; porquanto são dignas disso” (Apocalipse 3:4)
Foi por causa deste aspecto futuro da salvação que Jesus disse aos cristões em Tiatira: “Mas o que tendes, retende-o até que eu venha. E ao que vencer, e guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei poder sobre as nações,” (Apocalipse 2:25–26). E é também devido a este aspecto futuro da salvação que as Escrituras nos dizem:
• “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Timóteo 4:16).
• “Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará;” (2 Timóteo 2:12).
• “Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado;” (2 Pedro 2:20–21).
Às vezes nos expressamos mal a salvação
Meu coração dói ao ouvir cristões do reino discutirem sobre a salvação, sem reconhecerem que existem os aspectos passado e futuro. Escutei ou li diálogos entre cristões do reino semelhantes aos de “Cristão # 1” e “Cristão # 2” a seguir:
Cristão # 1 é um cristão do reino que ama a Jesus e vive segundo os seus ensinos. Contudo, ele pertence a uma igreja que enfatiza o aspecto futuro da salvação. Igualmente, Cristão # 2 também ama e obedece a Jesus, mas pertence a uma igreja que enfatiza o aspecto passado da salvação. Infelizmente, ainda que ambas as igrejas na realidade crêem em ambos os aspectos da salvação, nenhuma das duas igrejas põe igual ênfase nos dois aspectos. Conseqüentemente, os membros das duas igrejas com freqüência têm diálogos parecidos com o que lhes mostro a seguir:
Cristão # 2: “Irmão, você está salvo?
Cristão # 1: “Como assim, está salvo? Claro que não! Seria um atrevimento dizer que já estou salvo. Jesus tomará essa decisão quando eu morrer”.
Cristão # 2: “Bom, se você ainda não souber que já foi salvo, será tarde demais quando morrer. Você está acreditando num evangelho falso”.
Cristão # 1: “Não, você é quem está acreditando num evangelho falso, um evangelho de presunção!
Poderia parecer que estes dois cristões estão a anos luz de distância um do outro em suas crenças. E talvez seja assim. Mas com freqüência suas crenças são muito similares. Se eles verdadeiramente são cristões do reino, cada uma de suas igrejas provavelmente apóia tanto o aspecto passado como o aspecto futuro da salvação. No entanto, sendo que cada igreja reforça mais um dos aspectos da salvação quase a ponto de excluir o outro, seus membros possuem um entendimento confuso da salvação. E, portanto, não podem anunciar claramente o evangelho do reino, apesar de que o aceitam em seus corações.
Perguntar a alguém “Você está salvo?” é como perguntar a uma pessoa: “você deixou de roubar do seu patrão?” Um empregado honesto não pode responder a essa pergunta com um simples sim ou não, não é verdade? Ele só pode frustrar esta pergunta ardilosa respondendo: “Eu nunca roubei de meu patrão, portanto não há nada que para eu deixar de fazer”.
A pergunta sobre salvação é tão enganosa quanto essa, ainda que não seja intencionalmente assim.
Um simples sim ou não, não será suficiente. O que compreende o evangelho do reino deve responder ao engano inerente da pergunta da seguinte maneira: “Sim, estou salvo desde quando nasci de novo. No entanto, minha salvação final será determinada depois que eu perseverar até o fim.
Antes de deixar este assunto da salvação, quero agregar um comentário final sobre a segurança. Nós cristões do reino não vivemos numa constante angústia e insegurança. Não, vivemos numa expectativa gozosa do cumprimento das promessas que Jesus fez. E sabemos que a graça de Jesus nos capacitará para permanecermos na videira… enquanto continuarmos amando-o e lhe obedecendo. No entanto, ao mesmo tempo, não devemos ser confiantes ou presumidos demais, nem também devemos perder o temor de nosso Senhor. Sim, desfrutamos de verdadeira segurança, mas é uma segurança condicional.
Salvação por meio da teologia?
Por favor, entenda bem que uma pessoa, para ser salva, não tem que ser capaz de expressar oralmente as várias coisas que consideramos nos dois últimos capítulos. Jesus não está tão interessado no que dizemos. Antes de tudo, ele está interessado no que fazemos. E isto ele deixou bem claro numa de suas parábolas: “Um homem tinha dois filhos, e, dirigindo-se ao primeiro, disse: Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha. Ele, porém, respondendo, disse: Não quero. Mas depois, arrependendo-se, foi. E, dirigindo-se ao segundo, falou-lhe de igual modo; e, respondendo ele, disse: Eu vou, Senhor; e não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram-lhe eles: O primeiro” (Mateus 21:28–31). Importa o que fazemos, e não o que dizemos.
Os ensinamentos de Jesus foram projetados para serem compreendida pelas pessoas mais singelas. Não requerem nenhuma formação acadêmica. Se uma pessoa tem que estudar durante anos para dominar nossa teologia ou para que possa ensinar os outros, algo está muito errado. Nem Jesus nem seus apóstolos fundaram nenhum seminário, porque não nada disso é necessário para o evangelho do reino. Os cristões do reino raramente fundam seminários. E quando o fazem, sempre acabam perdendo o evangelho do reino.
O evangelho do reino é tão simples, tão livre de teologia complicada, que durante os primeiros trezentos anos do cristianismo, a seguinte confissão de fé foi suficiente:
Creio em Deus Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra; e em Jesus Cristo, seu único Filho, Senhor nosso; que foi concebido do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos; foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao inferno [Hades] ; ao terceiro dia ressuscitou dentre os mortos; subiu ao céu, e está sentado à destra de Deus Pai Todo-poderoso; e de onde há de vir julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa igreja universal, na comunhão dos santos, no perdão dos pecados, na ressurreição do corpo e na vida eterna.2
Esta singela confissão de fé é conhecida como o Credo Apostólico. Para melhor a verdade, os primeiros cristãos temiam ensinos e opiniões que iam além desta simples confissão de fé. Mas esta era toda a teologia que um cristão tinha que crer. Se alguns cristões quisessem se aprofundar mais, podiam fazê-lo, desde que não se envolvessem tanto em seus pensamentos a ponto de irem para além do que era tradicionalmente aceito.
Se o Credo Apostólico foi uma teologia adequada para os primeiros três séculos do cristianismo, também foi para os séculos seguintes. E ainda é uma teologia adequada para os nossos dias. A Igreja institucional não chegou a um melhor entendimento de Cristo depois que abandonou o evangelho do reino. Ao contrário, se afastou mais e mais do verdadeiro Cristo.