PROFECIA

I. A profecia na igreja primitiva
II. Como distinguir entre um verdadeiro e um falso profeta
III. . Os profetas do Antigo Testamento




I. A profecia na igreja primitiva (Voltar Aporta)

Naqueles dias desceram profetas de Jerusalém para Antioquia; e levantando-se um deles, de nome Ágabo, dava a entender pelo Espírito, que haveria uma grande fome por todo o mundo, a qual ocorreu no tempo de Cláudio. Atos 11:27-28.

De modo que as línguas são um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos; a profecia, porém, não é sinal para os incrédulos, mas para os crentes. 1 Coríntios 14:22.

E falem os profetas, dois ou três, e os outros julguem. 1 Coríntios 14:29.

Não desprezeis as profecias. 1 Tessalonicenses 5:20.

Porque, quando estive entre vocês, clamei, falei em voz alta, com a voz própria de Deus: Prestem atendimento ao bispo, ao presbítero e aos Diaconos. Pese a isso, tinha alguns que suspeitavam que eu dizia isto porque conhecia de antemão a divisão de algumas pessoas. Mas Aquele por quem estou atado me é testemunha de que não o soube por meio de carne de homem; foi a predicação do Espírito que falava desta forma. Ignácio (105 d.C.)

E enquanto (Policarpo) estava orando teve uma visão três dias antes de sua captura; e viu que seu travesseiro estava ardendo. E se voltou e disse aos que estavam com ele: “É necessário que seja queimado vivo.” Martírio de Policarpo (135 d.C.)

Paulo; pois na carta aos Coríntios escreveu com precisão a respeito dos dons proféticos, e reconheceu que há na igreja homens e mulheres que profetizam. Irineu (180 d.C.)

Também nós ouvimos a muitos irmãos na igreja, que têm o dom da profecia, e que falam em todas as línguas pelo Espírito. Irineu (180 d.C.)

Não tem de ser crido Celso (um oponente do cristianismo) quando diz que ouviu profetizar a tais homens, porque não apareceram profetas semelhantes aos antigos profetas no tempo de Celso (no segundo século). Orígenes (248 d.C.)


II. Como distinguir entre um verdadeiro e um falso profeta (Voltar Aporta)

Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. Mateus 7:22-23.

Igualmente hão de surgir muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. Mateus 24:11.

A tudo o que for a vocês em nome do Senhor, recebam-lhe, e provem-no depois para conhecer-lhe, já que devem ter suficiente critério para conhecer aos que são da direita e os que pertencem à esquerda. Se o que vier a vocês, for um pobre viajante, socorram-no quanto possam; mas não deve ficar-se em sua casa mais de duas ou três dias. Se quiser permanecer entre vocês como comerciante, que trabalhe para comer; se não tivesse ofício nenhum, tentem segundo sua prudência a que não fique entre vocês nenhum cristão ocioso. Se não quiser fazer isto, é um negociante do cristianismo, do qual se afastarão. Didaquê (80-140 d.C.)

Se alguém viesse de fora para ensinar-lhe tudo isto, recebam-no. Mas se resultar ser um doutor extraviado, que lhes dê outros ensinos para destruir sua fé, não lhe ouçam. Se pelo contrário, propusesse-se fazer-lhes regressar na senda da justiça e do conhecimento do Senhor, recebam-no como receberiam ao Senhor. Vejam ali como segundo os preceitos do evangelho devem portar-se com os Apostolos e profetas. Recebam em nome do Senhor aos Apostolos que lhes visitarem, em tanto permanecerem um dia ou dois entre vocês: o que ficar durante três dias, é um falso profeta. Ao sair o Apostolo, devem prover-lhe de pão para que possa ir à cidade onde se dirija: se pede dinheiro, é um falso profeta. Ao profeta que falar pelo espírito, não lhe julgarão, nem examinarão; porque tudo pecado será perdoado, menos este. Hermas (150 d.C.)

Não todos os que falam pelo espírito são profetas, só o são, os que seguem o exemplo do Senhor. Por sua conduta, poderão distinguir ao verdadeiro e ao falso profeta. O profeta, que falando pelo espírito, ordenar a mesa e comer dela, é um falso profeta. O profeta que ensinar a verdade, mas não fizer o que ensina, é um falso profeta. O profeta que for provado ser verdadeiro, e exercita seu corpo para o mistério do mundo da igreja, e que não obrigar a outros a praticar seu ascetismo, não lhe julguem, porque Deus é seu juiz: o mesmo fizeram os antigos profetas. Se alguém, falando pelo espírito, pedir-lhes dinheiro ou outra coisa, não lhe faz caso; mas se aconselha se dê aos pobres, não lhe julguem. Hermas (150 d.C.)

Com respeito a estes dois profetas; e, como te direi, assim porás a prova ao profeta e ao falso profeta. Por meio de sua vida põe a prova ao homem que tem o Espírito divino. Em primeiro lugar, o que tem o Espírito, que é de acima, é manso, calmo e humilde, e se abstém de toda maldade e vão desejo deste mundo presente, e se considera inferior a todos os homens, e não dá resposta a nenhum homem quando inquire dele, nem fala em segredo (porque também não fala o Espírito Santo quando um homem quer que o faça), senão que este homem fala quando Deus quer que o faça. Por conseguinte, quando o homem que tem o Espírito divino vai a uma assembléia de homens justos, que têm fé no Espírito de Deus, e se faz intercessão a Deus em favor da congregação destes homens, então o anjo do espírito profético que está com o homem cheia ao homem, e este, sendo cheio do Espírito Santo, fala à multidão, segundo quer o Senhor. Hermas (150 d.C.)

Com respeito ao espírito terreno e vão, que não tem poder, senão que é néscio. Em primeiro lugar, este homem que parece ter um espírito, exalta-se a si mesmo, e deseja ocupar um lugar principal, e imediatamente é imprudente e desavergonhado e charlatão e fala familiarizado em muitas coisas luxuriosas e muitos outros enganos, e recebe dinheiro por sua atividade profética, e se não o recebe, não profetiza. Portanto, põe a prova, por sua vida e suas obras, ao homem que diz que é inspirado pelo Espírito. Hermas (150 d.C.)

Em mudança, os falsos profetas, cheios do espírito embusteiro e impuro, não fizeram nem fazem caso, senão que se atrevem a realizar certos prodígios para espantar aos homens e glorificar aos espíritos do erro e aos demônios. Justino Mártir (160 d.C.)

Ela então se sente profetisa (entre os hereges) … e em agradecimento não só lhe dá uma grande parte de suas riquezas (a um maestro entre os hereges), de onde ele amontoa uma boa quantidade de dinheiro; senão que também lhe entrega seu corpo desejando estar unida intimamente com ele... Outras mulheres mais fiéis, levadas pelo temor de Deus, não se deixam seduzir. Quando ele as tentou seduzir como às outras, mandando-lhes que profetizem, afastaram-se deste homem fora de si lançando-lhe insultos e anátemas… Deus concede esta graça desde o alto a quem ele quer; e quem recebem de Deus este dom, falam onde e quando Deus quer, não quando Marcos (um herege) ordena. Irineu (180 d.C.)

Também julgará aos falsos profetas, os quais, não temendo a Deus nem aceitando de Deus o dom da profecia, fingem profetizar, mentindo contra Deus, ou por vangloria, ou por interesse de ganhos, ou por influxo do mau espírito. Irineu (180 d.C.)


III. Os profetas do Antigo Testamento (Voltar Aporta)

Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo. 2 Pedro 1:20-21.

Imitemos aos que andaram de um lugar a outro em peles de cabras e peles de ovelhas, pregando a vinda de Cristo. Queremos dizer… os profetas. Clemente de Roma (30-100 d.C.)

Os profetas divinos viviam segundo Cristo Jesus. Por esta causa também foram perseguidos, sendo inspirados por sua graça a fim de que os que são desobedientes possam ser plenamente persuadidos de que há um só Deus que se manifestou através de Jesus Cristo. Ignácio (105 d.C.)

Sim, e amamos aos profetas também, porque nos assinalaram o evangelho em seu predicação. Ignácio (105 d.C.)

Existiram faz muito tempo, contestou-me o velho, uns homens mais antigos que todos estes tidos por filósofos; homens abençoados, justos e amigos de Deus, que falaram por inspiração divina; e divinamente inspirados predisseram o porvir, o que justamente se está cumprindo agora: são os chamados profetas. Estes são os que viram e anunciaram a verdade aos homens, sem temer nem afagar a ninguém, sem deixar-se vencer da vangloria; senão, que cheios do Espírito Santo, só disseram o que viram e ouviram. Justino Mártir (160 d.C.)

Porque a profecia é a predição de coisas futuras, isto é, o preanuncio de coisas que só depois serão reais. Os profetas prediziam que os homens teriam de ver a Deus. Irineu (180 d.C.)

E, como antes disse, os profetas explicavam por meio de figuras que veriam a Deus todos os homens portadores de seu Espírito, que sem desmaiar esperam sua vinda. Bem como ensina Moisés no Deuteronômio: “Naquele dia veremos que Deus falará ao homem, e este viverá.” Pois alguns deles viam ao Espírito profético e suas obras, que impregnavam todos os tipos de seus dons. Outros viam a vinda do Senhor, e toda sua economia desde seus inícios, por meio da qual cumpriu a vontade celestial e terrena do Pai. Outros viam as glórias do Pai, de maneira adaptada aos que então as contemplavam e escutavam, e aos homens que no futuro teriam de ouvir falar delas. Irineu (180 d.C.)

O Espírito de Deus anunciou o futuro mediante os profetas, preparando-nos e moldando-nos para que fôssemos súbditos de Deus; pois tinha de suceder que o homem, pela vontade do Espírito Santo, contemplasse (a Deus). Irineu (180 d.C.)

Os profetas profetizavam não só pela palavra, senão também por suas visões, por sua conduta e pelas ações que realizavam segundo o Espírito lhes sugeria. Desta maneira viam ao Deus invisível, como diz Isaías: “Vi com meus olhos ao Senhor dos Exércitos.” Com isto deu a entender que o ser humano verá a Deus com seus olhos e escutará sua voz. Desta maneira viam ao Filho de Deus feito homem conversar com os seres humanos (Baruc 3:38), e assim anunciaram o que tinha de vir, falando como presente daquele que ainda não o estava… Eles viam visivelmente o que um dia teria de ser visto, proclamavam com a palavra o que um dia teria de ser ouvido, e realizavam com ações aquilo que um dia teria de levar-se a cabo: deste modo anunciavam todas as coisas de modo profético. Irineu (180 d.C.)

Deus, não só usou o serviço dos profetas para anunciar de antemão e prefigurar a salvação futura, por meio das visões que viam e os discursos que pregavam, senão também através de suas ações. Irineu (180 d.C.)

Por isso o profeta Daniel dizia: “Oculta as palavras e sela o livro até o tempo final, até que muitos aprendam e se cumpra o que sabem. Pois, quando a perseguição tenha chegado a seu fim, se saberão todas estas coisas.” E Jeremias diz: “Estas coisas se compreenderão ao final dos tempos.” Efetivamente, qualquer profecia é para os seres humanos enigmática e ambígua até que se cumpre; mas quando chega o tempo e sucede o profetizado, então se podem explicar as profecias claramente. Irineu (180 d.C.)

Os profetas, efetivamente, junto com muitas outras profecias também anunciaram este fato: que aqueles sobre os quais repousasse o Espírito de Deus, obedecessem à Palavra do Pai e o servissem segundo suas forças, teriam de sofrer a perseguição, seriam lapidados e assassinados. E os profetas mesmos se converteram numa figura de tudo isto, pelo amor a Deus e por sua Palavra. Irineu (180 d.C.)

Quanto os profetas entre os judeus; alguns eram homens sábios antes de receber inspiração divina; outros chegaram a ser sábios por meio dela. Eram escolhidos pela vontade divina para receber o Espírito de Deus, porque tinham uma vida irreprochável e excelente. Orígenes (248 d.C.)

Quanto aos assuntos mais profundos e misteriosos, além do alcance de um entendimento comum, os profetas propuseram enigmas e alegorias para que só os que estejam dispostos a esforçar-se na busca da verdade e a virtude, possam encontrar seu significado. Orígenes (248 d.C.)

A inclinação de falar mentiras é próprio dos que procuram riquezas e desejam ganhos. Mas tal disposição estava longe destes homens santos. Tão longe estavam de reservar tesouros para o futuro, que nem sequer trabalhavam para o dia. Não só não tinham ganhos, senão que inclusive suportaram tormentos e morte. Aqueles que não tinham desejos de ganhos, também não tinham inclinações nem motivos de enganar. Lactâncio (304-313 d.C.)

VER TAMBÉM APOSTOLOS, Os DOZE; DONS DO ESPÍRITO

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