MORTE

I. Que é a morte?
II. Por que morrem os homens?
III. Conceito e atitude dos primeiros cristãos para a morte




I. Que é a morte? (Voltar Aporta)

Porque morrer consiste em perder a respiração e a força vital, e converter-se num ser imóvel e inanimado, para retornar àqueles elementos dos quais ao início sacou sua substância. Isto não pode suceder-lhe ao alma, que é o sopro de vida; nem ao Espírito, que não é composto senão simples, e assim não pode dissolver-se, senão que, pelo contrário, é ele a vida daqueles que dele participam. O único que fica, pois, é que a morte se refira à carne. Esta, uma vez que o alma se aparta, fica inanimada e sem respiração, e pouco a pouco se dissolve na terra da que foi sacada. Esta, pois, é a mortal. Irineu (180 d.C.)

A morte não é outra coisa que a separação do alma e do corpo, a vida, que é o contrário da morte, não se pode definir mais do que como a união do corpo e do alma. Se a separação das duas substâncias se produz simultaneamente pela morte, a lei de sua união nos obriga a pensar que a vida chega simultaneamente às duas substâncias. Simultaneamente se une para a vida, o que simultaneamente se separa na morte. Tertuliano (197 d.C.)

Se morremos, quando nos toque, então passamos pela morte à imortalidade, e não pode começar a vida eterna até que não saiamos desta. Não é certamente uma saída, senão um passo e traslado à eternidade, depois de correr esta carreira temporária. Cipriano (250 d.C.)


II. Por que morrem os homens? (Voltar Aporta)

Como castigo por seu pecado, impuseram-se ao homem os sofrimentos, o trabalho da terra, comer o pão com o suor de sua frente, e voltar à terra da que tinha sido sacado… Deus não queria nem que, por uma parte, ficassem afundados na morte; nem, por outra, se não eram castigados, pudessem desprezar a Deus. Irineu (180 d.C.)

Mas, como Deus é veraz, e em mudança a serpente é mentirosa, os efeitos provaram que a morte seria a conseqüência se eles comiam (do fruto). Ao mesmo tempo eles agradaram do bocado e da morte; porque comeram por desobediência, e a desobediência produz a morte. Por isso foram eles entregados à morte, pois se fizeram seus devedores. Irineu (180 d.C.)

Por este motivo “o jogou do Paraiso” e os afastou “da árvore da vida.” Não é que Deus sentisse ciúmes pela árvore da vida, como alguns se atrevem a opinar; senão que foi ato de misericórdia afastá-lo para que não seguisse transgredindo, a fim de que seu pecado não estivesse nele para sempre como um mal insaciável e sem remédio. Deste modo lhe impediu seguir transgredindo o mandato, impôs-lhe a morte e marcou um limite ao pecado ao pôr-lhe a ele um termo na terra mediante a dissolução da carne. Desta maneira o homem, ao morrer, deixaria de viver para o pecado e começaria a viver para Deus. Irineu (180 d.C.)

Mas Deus fez um grande benefício ao homem ao não deixar que permanecesse para sempre no pecado. Em certa maneira semelhante a um desterro, arrojou-o do Paraiso para que pagasse num prazo determinado a pena de seu pecado e assim educado fora de novo chamado... E ainda mais: bem como a um copo, se depois de modelado resulta com algum defeito, se lhe volta a amassar e a modelar para fazê-lo de novo e inteiro, assim sucede também ao homem com a morte: se lhe rompe pela força, para que saia íntegro na ressurreição, isto é, sem defeito, justo e imortal. Teófilo (180 d.C.)

O pecado imprime seu selo em cada alma e a todas por igual as destina à morte. Devem morrer. Toda carne caiu sob o poder do pecado, todos sob o poder da morte. Melitón de Sardis (190 d.C.)


III. Conceito e atitude dos cristãos para a morte (Voltar Aporta)

Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; eu não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. Ouvistes que eu vos disse: Vou, e voltarei a vós. Se me amásseis, alegrar-vos-íeis de que eu vá para o Pai; porque o Pai é maior do que eu. João 14:27-28.

Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Filipenses 1:21.

Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais como os outros que não têm esperança. 1 Tessalonicenses 4:13.

Sendo assim que todas as coisas têm um final, e estas duas, vida e morte, estão adiante de nós, e cada um deve ir a seu próprio lugar, já que só há duas moedas, a uma de Deus e a outra do mundo, e cada uma tem sua própria estampa cunhada nela, os não crentes a marca do mundo, mas os fiéis em amor a marca de Deus o Pai por meio de Jesus Cristo, conquanto a não ser que aceitemos livremente morrer em sua paixão por meio de O, sua vida não está em nós. Ignácio (105 d.C.)

Cristo se apresentou a Pedro e sua companhia, e lhes disse: Ponham as mãos sobre mim e apalpem-me, e vejam que não sou um demônio sem corpo. E no ponto eles lhe tocaram, e creram, tendo-se unido a sua carne e seu sangue. Pelo qual eles desprezaram a morte, é mais, foram achados superiores à morte. Ignácio (105 d.C.)

(Os cristãos) não têm em consideração o mundo e desprezam a morte. Epístola a Diogneto (125-200 d.C.)

Justino testemunha como via em sua vida passada aos cristãos quando estes eram levados à morte.

E eu mesmo, deleitava-me com a doutrina de Platão e ouvia falar dos crimes que se imputavam aos cristãos, mas lhes via acercar-se serenos à morte e às demais coisas que parecem temíveis aos homens, compreendia que era impossível que aqueles homens vivessem na maldade e no amor dos prazeres. Justino Mártir (160 d.C.)

Vocês, matar-nos, sim, podem; mas danar-nos, não. Justino Mártir (160 d.C.)

Já que não fixamos nossos pensamentos no presente, não nos preocupamos quando os homens nos levam à morte. De todos os modos, o morrer é uma dívida que todos temos que pagar. Justino Mártir (160 d.C.)

Os homens, depois de perder a mortalidade, conquistaram a morte por meio de submeter-se à morte em fé. Taciano (160 d.C.)

(O cristão) quando tem de deixar esta morada e esta posse e o uso dela, segue de boa vontade ao que lhe saca desta vida, sem voltar-se jamais a olhar para trás sob nenhum pretexto. Dá graças para valer pela pousada recebida, mas abençoa o momento ao sair dela, pois almeja como sua única mansão a celestial. Clemente de Alexandria (195 d.C.)

Já que a ressurreição dos mortos é segura, já não é necessário a tristeza que produz a morte. Por que chorar, se crês que teu ser querido não pereceu? Nós ferimos a Cristo ao não aceitar quando Ele chama a uma pessoa piedosa a sair deste mundo. Tertuliano (200 d.C.)

Que formoso espetáculo para Deus, quando o cristão se enfrenta à dor, quando enfrenta as ameaças, suplícios e tormentos, quando despreza sorridente o estrépito da morte e o horror que inspira o verdugo, quando faz valer sua liberdade frente a reis e príncipes e só se submete ao único Deus, a quem pertence, quando, triunfante e vitorioso, desafia a quem pronunciou a sentença contra ele. Porque ao final venceu quem obteve aquilo pelo que lutou. Marco Minucio Félix (200 d.C.)

Mas, em nosso caso, inclusive os meninos e as mulheres, graças à capacidade para suportar a dor que lhes é inspirada, burlam-se das cruzes e dos tormentos, das feras e de todos os fantasmas dos suplícios. Marco Minucio Félix (200 d.C.)

As dois seguintes citações são referidas a muitos cristãos que morreram devido à peste que acresceu no império romano no século III.

É verdade que perecem nesta peste muitos dos nossos; isto quer dizer que muitos dos cristãos se livram deste mundo. Esta mortandade é uma pestilência para os judeus, gentis e inimigos de Cristo; mas para os servidores de Deus é salvadora partida para a eternidade. Pelo fato de que sem discriminação alguma de homens morram bons e maus, não há que crer que tanto faz a morte de uns e de outros. Os justos são levados ao lugar do descanso, os maus são arrastados ao suplício; aos fiéis se lhes outorga em seguida a segurança; aos infiéis, sem demorar o castigo. Cipriano (250 d.C.)

Quantas vezes me foi revelado, quantas e mais claras vezes se me ordenou pela bondade de Deus que clamasse sem cessar, que pregasse em público que não devia chorar-se por nossas irmãos chamados pelo Senhor e livres deste mundo, sabendo que não se perdem, senão que nos precedem; que, como viajantes, como navegantes, vão adiante dos que ficamos atrás; que se pode sentir os falta, mas não os chorar e cobrir-nos de luto, já que eles já se vestiram vestidos brancos. Cipriano (250 d.C.)

O que tem de chegar à morada de Cristo, à glória do reino celestial, não deve derramar pranto, senão mais bem regozijar nesta partida e traslado. Cipriano (250 d.C.)

VER TAMBÉM FUNERÁRIAS, PRÁCTRICAS; MARTIRES, MARTÍRIO; MORTOS; RESSURREIÇÃO

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