HERMENEUTICA

Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e ouvindo, não ouvem nem entendem. E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, e de maneira alguma entendereis; e, vendo, vereis, e de maneira alguma percebereis. Mateus 13:13-14.

E correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes, porventura, o que estás lendo? Ele respondeu: Pois como poderei entender, se alguém não me ensinar? e rogou a Filipe que subisse e com ele se sentasse. Atos 8:30-31.

Antes de tudo, por tua parte, roga para que se te abram as portas da luz, pois estas coisas não são fáceis de ver e compreender por todos, senão a quem Deus e sua Cristo concede compreendê-las. Justino Mártir (160 d.C.)

Uma mente sã e religiosa que ama a verdade, sem perigo algum põe a capacidade que Deus concedeu aos seres humanos ao serviço da ciência, e com um constante estudo poderá progredir em seu conhecimento das coisas. Por estas quero dizer aquelas que dia depois de dia sucedem ante nossos olhos, e também aquelas que as palavras da Escritura tratam em forma aberta. Por isso se devem interpretar as parábolas sem métodos ambíguos: quem desta maneira as entende, não correrá perigo, e todos devem explicar as parábolas de modo semelhante. Irineu (180 d.C.)

Tendo, pois, a mesma regra da verdade e um claro depoimento de Deus, não podemos abandonar o conhecimento verdadeiro e verdadeiro sobre Deus, por questões desviantes em outras e outras interpretações… Se ainda entre as coisas criadas algumas são acessíveis só ao conhecimento de Deus, e outras também podem cair sob nossa ciência, que dificuldade há se nas questões da Escritura, sendo estas espirituais, averiguamos umas coisas com sua graça e outras as deixamos a Deus… Portanto, se pelos motivos que acabamos de expor deixamos à ciência de Deus certas questões, enquanto conservamos a fé, podemos viver seguros e sem perigos. Deste modo toda a Escritura que Deus nos deu nos parecerá congruente, concordarão as interpretações das parábolas com expressões claras, e escutaremos as diversas vozes como uma só melodia que eleva hinos ao Deus que fez todas as coisas. Irineu (180 d.C.)

Por isso devemos deixar à ciência de Deus muitas destas questões, como o Senhor lhe deixou o dia e a hora. Correríamos o maior perigo se a Deus nada lhe deixamos, ainda que recebemos dele só em parte esta graça, quando pesquisamos as coisas que nos superam e que por agora não nos é possível descobrir. Mas cair em tão grande ousadia que falsificar a Deus, que presumamos de ter descoberto o que não descobrimos. Irineu (180 d.C.)

Então, sé se acha alguma divergência ainda em alguma coisa mínima, não seria conveniente voltar os olhos às igrejas mais antigas, nas quais os Apostolos viveram, a fim de tomar delas a doutrina para resolver a questão, o que é mais claro e seguro? Inclusive se os Apostolos não nos tivessem deixado seus escritos, não tivesse sido necessário seguir o ordem da tradição que eles transmitiram àqueles a quem confiaram as igrejas? Irineu (180 d.C.)

Por isso o profeta Daniel dizia: “Oculta as palavras e sela o livro até o tempo final, até que muitos aprendam e se cumpra o que sabem. Pois, quando a perseguição tenha chegado a seu fim, se saberão todas estas coisas” (Dão 12:4.7). E Jeremias diz: “Estas coisas se compreenderão ao final dos tempos” (Jer 23:20). Efetivamente, qualquer profecia é para os seres humanos enigmática e ambígua até que se cumpre; mas quando chega o tempo e sucede o profetizado, então se podem explicar as profecias claramente. Irineu (180 d.C.)

Por isso ainda em nossos tempos o que se lê na lei lhes parece uma fábula aos judeus. É que não têm aquilo que o explica tudo, como é o que toca à vinda do Filho de Deus feito homem. Em mudança para os cristãos, quando o lêem, converte-se no tesouro escondido no campo, revelado e explicado pela cruz de Cristo, que lhes dá inteligência aos seres humanos e mostra a sabedoria de Deus… Portanto, se alguém lê as Escrituras como acabamos de explicar bem como Cristo ensinou aos discípulos, depois de ressuscitar de entre os mortos, mostrando-lhes a partir das Escrituras que “era necessário que o Cristo padecesse todas estas coisas e assim entrasse em sua glória e em seu nome se pregasse o perdão dos pecados em todo mundo,” chegará a ser um perfeito discípulo, como aquele “pai de família que saca de seu tesouro costures novas e velhas.” Irineu (180 d.C.)

Os que sabemos bem que o Salvador não diz nada de uma maneira puramente humana, senão que ensina a seus discípulos todas as coisas com uma sabedoria divina e cheia de mistérios, não temos de escutar suas palavras com um ouvido carnal, senão que, com um piedoso estudo e inteligência, temos de tentar encontrar e compreender seu sentido escondido. Efetivamente, o que o mesmo Senhor parece ter exposto com toda simplicidade a seus discípulos não requer menos atendimento que o que lhes ensinava em enigmas; e ainda agora nos encontramos com que requerem um estudo mais detento, devido a que há em suas palavras uma plenitude de sentido que ultrapassa nossa inteligência... O que tem mais importância para o fim mesmo de nossa salvação, está como protegido pelo envoltório de seu sentido profundo, maravilhoso e celestial, e não convém recebê-lo em nossos ouvidos de qualquer maneira, senão que há que penetrar com a mente até o mesmo espírito do Salvador e até o secreto de sua mente. Clemente de Alexandria (195 d.C.)

Eu digo que o evangelho meu é o correto. Marciano [um maestro gnóstico principal] diz que o seu é o correto. Eu digo que o evangelho de Marciano se adulterou. O diz que o meu se adulterou. Bueno, como podemos resolver esta disputa, exceto pelo fundamento de tempo? Segundo este fundamento, a autoridade a tem o que tem a posição mais antiga. Isto se baseia na verdade elementar que a adulteração está com aquele cuja doutrina se originou mais recentemente. Já que o erro é a falsificação da verdade, a verdade tinha que existir antes que o erro. Tertuliano (197 d.C.)

Nenhum ensino poderá ser recebido como apostólica, exceto as que são proclamadas nas igrejas fundadas pelos Apostolos. Tertuliano (197 d.C.)

Voltemos a nossa discussão a respeito do princípio de que o mais originário é o verdadeiro, e o posterior é o falso. Tertuliano (197 d.C.)

O correto é que os versículos difíceis de entender e os que não são tão claros devem ser aclarados pelos que são bem claros. Tertuliano (210 d.C.)

Por tal razão, o evangelho deseja que tenha homens sábios entre os crentes que, com o fim de exigir o entendimento em seus ouvintes, demonstrou certas verdades em enigmas e outras em parábolas. Orígenes (248 d.C.)

VER TAMBÉM FÉ APOSTÓLICA; LEI MOSAICA (II. Significado espiritual da lei); HEREGES, HERESIAS (III. Como os hereges interpretam mau as Escrituras); TRADIÇÃO APOSTÓLICA

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